sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Capitulo SETE: "NOSTALGIA"


O sonho de ganhar a vida lhe parecia muito mais colorido em sua própria cama no singelo barraco de adobe lá no longínquo sertão brasileiro. Sabia que não seria fácil, mas esperava algo bem diferente da realidade cinzenta que agora está enfrentando. Realidade esta que começa na fria madrugada e se arrasta devagar por lentas e longas horas de pesado trabalho.

Nessa época parece que a solidão fica mais e mais pesada, vendo as pequenas luzes piscando e as árvores enfeitadas de coloridas bolas de vidro refletindo nas janelas das casas pelas quais passa a caminho do serviço.

Com o coração apertado e os pensamentos perdidos e direcionados a sua família, se pega perambulando pela cidade quando pára diante do Centro de Cultura Nordestina.

Já havia ouvido falar naquele lugar, onde os retirantes se reúnem e trocam lembranças de uma vida já distante no tempo e na geografia, e impressões sobre a luta vivida a cada dia na selvagem metrópole. Um pequeno refúgio onde se protegem dos olhares torcidos da população nativa e dos pesados fardos que carregam sobre os ombros diuturnamente.

Hoje é sábado, está livre da faina azáfama e se viu atraído pelos alegres sons vindos do interior do prédio. A música alta e os risos espontâneos eram um indicador que o propósito do lugar no final das contas, era unir aquele povo sofrido em torno de seus iguais, esquecerem um pouco o sofrimento e se lembrarem de que ainda assim poderiam se divertir como gostavam.

Rapidamente já estava ambientado, com o pouco dinheiro que levara, Raimundo fez a festa. Comeu tapioca com carne de vento, que era como a família chamava a carne de sol lá de onde vem, e bebeu umas duas cachaças, que era isso que ele gostava de tomar mesmo.

Sem perceber, já fazia parte de uma roda de pessoas que se divertiam com uma disputa de repentistas já famosos por ali, e que cantavam versos sobre um Papai Noel que chega ao sertão numa carrocinha rebocada por bodes e jegues, que arrancava frouxas risadas de todos os presentes.

“Seu menino nem te conto/ o que foi que aconteceu / foi coisa que eu ouvi/ mentiroso não

sou eu”

“Conte logo companheiro/ não venha com essa banca/ não te acho mentiroso/ nada hoje me espanta”

“Francisquinha na cacimba/ me gritou como é que pode?/ lá vem o Papai Noel/ puxado por oito bodes”

“How How How ou minha filha/ não saia tão de repente/ vou deixar todas crianças/ felizes com seus presentes”

“Bom velhinho não preocupe/ pode voltar para cidade/ aqui nesse nosso sertão/ já temos felicidade”

Inebriado pelas lembranças de casa, já era praticamente amigo de infância de uma figurinha simpática que conhecia tudo e todos naquele ambiente e que se aproximou dele com um largo sorriso no rosto e mão direita esticada:

_ Está perdido por aqui meu amigo? Venha cá tomar uma. A propósito, me chamam de Baianinho!