terça-feira, 26 de junho de 2012

A Vida é Curta!



   Faziam anos que não se viam, mais de uma década inteira e mais um punhado de anos, na verdade. Se conheceram em uma época sem responsabilidades, muito menos compromissos, porém o tempo simplesmente faz sua parte, que no caso foi separá-los durante essa pequena eternidade, na qual nem mais se lembravam da existência um do outro até aquele momento em que se encontraram entre os corredores do supermercado.
   _Nossa! Quanto tempo? Que surpresa te encontrar por aqui! Pensei que estava longe!
   _E estava, acabei de voltar para a cidade, obrigações familiares, mas nem me aguentava mais de saudades dessa terrinha!
   _Eu também andei rodando meio mundo, acho que chegou minha hora de criar raízes e até hoje não conheci um "Lugar melhor que o nosso lar", bati com os calcanhares e voei para cá com o Totó o mais rápido possível.
   Sentada entre desconhecidos ela lembra de toda a conversa como se houvesse acabado de acontecer.  o contato virtual mantido a partir daquele efêmero instante e uma promessa tácita de um novo encontro, desta feita com finalidade diferente, quem sabe o início de algo mais profundo?
   Ela sentia que dali surgiria relação duradoura, conseguia vislumbrar a segurança que ele lhe daria. Até que gostaria realmente de experimentar a sensação de conforto prometida por seu coração no momento daquele talvez nem tão casual encontro entre as disputadas prateleiras . Tinha certeza que ele também sentiu aquele frio na espinha ali mesmo, no meio do grande supermercado.
   Só que agora ainda não era o momento certo, ela achava. Ainda tinha algo a fazer, aproveitar uma adolescência tardia, a vida é muito curta, melhor se entregar a uma temporada no sereno do que ficar atada a uma frustrante monogamia enquanto uma grandiosa lua cheia brilha do lado de fora.
   Engraçado como agora, sentada ali na dura cadeira plástica daquela sala fria onde somente se ouve o choro baixo e lamentoso de alguns presentes e o roçar das contas do rosário se desfiando por entre os dedos de pessoas de semblante abatido e olhos lacrimejantes, observando o reflexo de seu rosto na prataria que sustenta o esquife do amigo há pouco reencontrado, a vida lhe parece ainda mais curta do que antes...
   Antes de se levantar levando consigo triste peso sobre os ombros, tem certeza de uma coisa: É hora de rever as suas prioridades.