domingo, 2 de dezembro de 2012

Noite Longa...

Noite longa e morna
Combinação ruim especialmente com a atual receita de fermentos e temperos que no momento povoam a mente.
Na certeza de que o incerto prevalecerá
O turbilhão que se forma é quase insustentável e de forma cruel, atinge e magoa a todos em volta.
Todos não. Somente os bons, os que querem e podem ajudar mas não conseguem se aproximar.
Tentam, procuram, mas a passagem está bloqueada por defesas que foram erguidas no intuito de barrar outras hordas.
Hienídeos? Hominídeos? Sejam lá o que forem, só sei que se riem enquanto alimentam da podridão sem nem saber a qual espécie eles mesmos pertencem.
Com um pouco de sorte se tornarão "autropófagos".

   Assim venho contrito pedir de uma forma geral  a absolvição de meus erros mundanos.
Peço primeiro ao Onipotente que a tudo viu e não ficou nem um pouco feliz com este filho assaz pródigo mas que acaba de dar com os costados em seus limites. As águas que doravante hei de singrar se mostram escuras e profundas, então aceito com humildade e bom grado seu Divino escaler.
Quero agora me escusar com todos familiares, amigos, colegas, conhecidos, desconhecidos, enfim, qualquer um a quem fiz triste, magoei, não pude estender a mão, dar um abraço, oferecer um bom dia ou iluminar um sorriso.
Quem me conhece sabe que não sou muito dado a tais palavras, não está sendo fácil transcrever  isso. Não sei o que deu em mim, nem tenho ainda a desculpa do Espírito Natalino, mas meu coração se faz pesado e preciso de um escape para tal pressão que me sufoca.
Não quero mudar o ano envolto nessa sombra fria. Acredito estar dando o primeiro passo para me livrar do peso que tem me acompanhado em 2012.
Que o Novo traga alegrias e energias necessárias a essa nova Gênese.
Que Deus me ajude, e vocês também.

Já se vão oito horas e meia observando monitores, vários na verdade, cada qual dividido em dezesseis pequenas telas nas quais se alternam as mais diversas imagens e situações. Corredores  sombrios e salas escuras, quadras silenciosas e escadarias vazias. Duas pessoas que conversam alguma banalidade ao se encontrarem em uma passagem qualquer e bem ali, no cantinho, na última quadrícula de um monitor eu me assisto.
Uma figura melancólica defronte um grande equipamento eletrônico, verdadeiro Big Brother, escrevendo bobagens em um feio pedaço de papel reciclado enquanto toma café frio e ouve as duas e quarenta da manhã, algo entre estática de um rádio VHF profissional e um chiado semi musical vindo de um surrado FM que utiliza um pedaço de fio a guisa de antena.
Minha vida já fez o contorno da Serra, mas meu final não será assistido em uma tela amarelecida por um anônimo operador de vídeo que se identifica como um número de ramal e conversa através de códigos compostos por três letras não. MAS NÃO MESMO!

terça-feira, 26 de junho de 2012

A Vida é Curta!



   Faziam anos que não se viam, mais de uma década inteira e mais um punhado de anos, na verdade. Se conheceram em uma época sem responsabilidades, muito menos compromissos, porém o tempo simplesmente faz sua parte, que no caso foi separá-los durante essa pequena eternidade, na qual nem mais se lembravam da existência um do outro até aquele momento em que se encontraram entre os corredores do supermercado.
   _Nossa! Quanto tempo? Que surpresa te encontrar por aqui! Pensei que estava longe!
   _E estava, acabei de voltar para a cidade, obrigações familiares, mas nem me aguentava mais de saudades dessa terrinha!
   _Eu também andei rodando meio mundo, acho que chegou minha hora de criar raízes e até hoje não conheci um "Lugar melhor que o nosso lar", bati com os calcanhares e voei para cá com o Totó o mais rápido possível.
   Sentada entre desconhecidos ela lembra de toda a conversa como se houvesse acabado de acontecer.  o contato virtual mantido a partir daquele efêmero instante e uma promessa tácita de um novo encontro, desta feita com finalidade diferente, quem sabe o início de algo mais profundo?
   Ela sentia que dali surgiria relação duradoura, conseguia vislumbrar a segurança que ele lhe daria. Até que gostaria realmente de experimentar a sensação de conforto prometida por seu coração no momento daquele talvez nem tão casual encontro entre as disputadas prateleiras . Tinha certeza que ele também sentiu aquele frio na espinha ali mesmo, no meio do grande supermercado.
   Só que agora ainda não era o momento certo, ela achava. Ainda tinha algo a fazer, aproveitar uma adolescência tardia, a vida é muito curta, melhor se entregar a uma temporada no sereno do que ficar atada a uma frustrante monogamia enquanto uma grandiosa lua cheia brilha do lado de fora.
   Engraçado como agora, sentada ali na dura cadeira plástica daquela sala fria onde somente se ouve o choro baixo e lamentoso de alguns presentes e o roçar das contas do rosário se desfiando por entre os dedos de pessoas de semblante abatido e olhos lacrimejantes, observando o reflexo de seu rosto na prataria que sustenta o esquife do amigo há pouco reencontrado, a vida lhe parece ainda mais curta do que antes...
   Antes de se levantar levando consigo triste peso sobre os ombros, tem certeza de uma coisa: É hora de rever as suas prioridades.
   

sexta-feira, 30 de março de 2012

Capítulo oito: AMIZADE


O contato feito naquela tarde com aquela pessoa de fácil trato e prosa boa rápida e automaticamente se convertera em amizade profunda, devido talvez ao fato de que se encontrava só naquela cidade de grades e muros já fazia algum tempo. Conversava somente com os companheiros de labuta e mesmo assim os assuntos não chegavam a lhe agradar. A maioria só conseguia mesmo era reclamar do destino que os havia jogado naquele lugar e muitos dos outros estavam já perdidos no mundo das drogas, descontando as dores da alma na infame pedra de crack. Notava os trabalhadores realmente definhando a olhos vistos e somente tinha certeza de uma coisa: Não abandonara sua família tão longe para sofrer destino semelhante. Não senhor, seu objetivo ali era na verdade, ganhar seus mil contos por mês e trazer a todos os queridos, eles mereciam sair da miséria do sertão!
As saídas com o novo amigo já ficaram comuns, sempre que tinha algum sobrando, que não era guardado na sua latinha, dava um pulo lá no Centro para colocar a papo em dia e saber das novidades entre a comunidade. Contava a Baianinho suas histórias sob o sol escaldante da caatinga e ouvia sobre sua caminhada desde a chegada na cidade até trabalhar para uma família de certas posses.
_Raimundo, então é verdade que você já plantou palma até em terreno perdido onde nasce nem pedra?
_Claro que sim cabra, tá me chamando de mentiroso?
_Que isso moço, me entenda errado não! É que quem consegue plantar isso planta qualquer coisa, e isso tá me dando uma ideia da porreta!

domingo, 18 de março de 2012

A morte do Pintinho Amarelinho


Hoje eu coloquei uma nova definição ao verbete "Decadência" em meu dicionário pessoal.
Domingo frio e tedioso, resolvo zapear pelos canais da tevê aberta tentando encontrar algo de interessante para assistir, pois já estava ficando louco diante da tela do computador e me deparo com uma cena no mínimo ridícula (pelo menos para mim).
O antes garoto prodígio do Sr. Abravanel está apresentando um quadro de humor (tentando) nos moldes de escolinha! Isso mesmo! Escolinha! Até o Tiririca, Renato Aragão e Chico Anísio desistiram da batida fórmula e o garoto dourado do homem do baú começa a tentar entreter ou dissolver os cérebros de seus espectadores. Uma pessoa que nem quando colhia os louros de abundante assistência conseguia fazer drama se aproveitando das mais terríveis mazelas alheias agora quer fazer rir com clichês baratíssimos e sem noção, se servindo de estereótipos truncados a fim de entreter uma população cada vez mais carente de cultura.
Mas o que podemos esperar de alguém que alcançou o topo do sucesso cantando "Pintinho Amarelinho"? Fui muito ingênuo de pensar diferente.
Mais que depressa, desligo a tevê e volto ao computador, já que estamos falando de humor, que seja stand up, um pouco de inteligência florescendo no meio do deserto de entretenimento brasileiro.
Ah, tem mais uma coisinha: Desliguei rápido pois estava morrendo de medo de depois dos comerciais, me deparar com o apresentador sentado em um banco de praça gritando ao ouvido de uma idosa com problemas auditivos.
Pensando bem, acho que vou é ler um livro!