sábado, 19 de maio de 2018

INSONE



   Pensei que ele havia ido embora, partido de vez afinal, fazem alguns anos que não dá as caras, que nem sequer me lembrava dele mas eis que do nada, adivinha! O tal me aparece dos escuros escombros pretéritos onde acreditei de forma vã tê-lo sepultado para sempre.
   Não sei o que houve, algo que vi na TV que talvez tenha acionado o gatilho, do nada, ele me chama: _Ei! Não fui embora, ainda estou vivo, não me deixe perecer! A partir daí começou a me contar ou melhor, me lembrar do seu tempo áureo, aquele em que andava sob a luz do sol e à vista d mundo onde fora forjado entre seus irmãos e iguais, lado a lado, entre o malho e a bigorna, em cima e embaixo, com o tórrido rubor da fornalha tingindo de rubro o horizonte de um irônico céu com tonalidades infernais.
   Sente falta, o infeliz, de sentir o frio do aço em contato com a face, de ver a vida passando diante de si pela pequena lingueta metálica, massa sobre a sinistra abertura que a qualquer momento pode drasticamente alterar o curso de uma vida, esteja esta além ou aquém da fatal câmara. Até mesmo dos humores mefíticos é saudoso, de certa forma, claro. Dos fumos e brumas que evoluem nas tenras  e imaturas horas matinais envolvendo seu mundo em diáfano manto que dá um ar fugazmente sobrenatural àquilo, mas somente até o momento no qual o clangor de metal e madeira o puxam de volta à realidade ao mesmo tempo em que dou por mim percebendo que a madrugada há muito já se foi e a manhã segue avançada, mas não ralho com ele pois se não fosse comigo, com quem mais poderia compartilhar tamanha nostalgia?
   Te agradeço GUERREIRO por essa honra, mas é hora de voltar a seu repouso sob as grossas camadas do tempo, mas é sempre bom lembrar que um TIGRE nunca perde as suas listras.
   FORCA E HONRA!!!!!!
   CAVEIRA!
TIGRE 01

quarta-feira, 29 de julho de 2015

A Vida Passa Na Velocidade 4g

   Enquanto voltava ao serviço na hora do almoço de hoje, me deparei com algo caído no chão da praça, e curioso que sou, fui descobrir o que era. Foi com pesar que vi uma pequena coruja que jazia já sem vida, fato que acredito ter ocorrido há pouco tempo, pois na ida tracei a mesma rota e com certeza ela não estava ali.
   Na mesma hora, lembrei do comercial de telefonia móvel "A vida passa na velocidade 4 g", não sei o nome da peça comercial mas vou chamar desse jeito mesmo.
   Particularmente, é uma propaganda que eu abomino, pois apesar de ter uma pegada mais animada e divertida, ela me lembra somente de fugacidade do tempo e de como somos espancados por este titã, Chrono, aquele que nos primórdios da existência devorava os próprios filhos, e agora lentamente se alimenta de nossa vida.
   Não sei dizer qual a velocidade 4 g em termos físicos, mas acho que é pouco se comparada à pancada que senti.
   O tempo se esvai rapidamente como grãos de areia em uma ampulheta, e não podemos fazer nada a respeito disso. Me senti hoje como se estivesse nadando em mel, o que pode parecer doce, mas na realidade é denso, pesado e viscoso, e somente drena nossa energia até o momento no qual não há nada mais a fazer do que se entregar.
   O que nos cabe então é deixar um legado, alguma coisa boa, uma lembrança, um sorriso, e infelizmente, estou com medo de estar fazendo exatamente o contrário.
   Na velocidade em que passa o tempo da vida, nós somos obrigados a acompanhar, mesmo que por pura inércia, e na esteira que criamos, trazemos em nosso vácuo um turbilhão de palavras mal ditas, malditas e mal compreendidas, machucando sem querer qualquer pessoa que de uma forma ou de outra, está por perto assistindo essa frenética passagem. Como ouvi certa feita, o que foi dito, já foi, desculpa não conserta copo quebrado, mas a todos que um dia, graças ao meu gênio terrível e humor antipático, impertinente, irascível, essa ranzinzice que como fel me deixa com essa impressão (falsa) tão amarga, peço minhas mais sinceras desculpas a todos, em especial, a você que se disponibilizou a perder um pouco do seu precioso tempo (olha ele aí de novo!) para ler essas mal traçadas linhas.
   Como nosso tempo aqui é incerto, espero que ainda esteja dentro do prazo...

 

domingo, 22 de dezembro de 2013

Malhando

   O exercício da paciência para mim, é a mais bela das qualidades humanas quando utilizado de forma coerente e adequada. Paciência para esperar a resposta de uma mensagem, aguardar o envio de uma encomenda, enfrentar uma fila qualquer, suportar chiliques e cretinices dos outros (e irritar quando perdem a paciência com nossos chiliques e cretinices), até mesmo para ouvir o telefone chamar pela terceira vez e ninguém se propor a atendê-lo.
   Chamo de exercício pois na minha opinião, exige-se uma força sobre-humana para se levantar as pesadas anilhas da eutimia. Olhar bem nos olhos de alguém e se conter para não ser direto, não ferir alguma pele diáfana naquela alma que não vai segurar remendo.
   Deve existir em algum lugar uma academia que nos ensine a exercitar essa parte de nós, onde um personal-alguma-coisa se aproxima e ao perguntar qual a finalidade pretende alcançar, receba com naturalidade a resposta que será tanto natural como comum ali:  _ Quero definir a fleuma, mas sem deixar de lado o preparo da mansidão e com um foco direcionado à eupatia, que está ficando meio flácida. É a idade, você entende, né?
   Alongar a longanimidade é fundamental também para que evitemos sofrer as distensões decorrentes do esforço despreparado. Ontem mesmo sofri terríveis câimbras para sustentar um sorriso não planejado.
   Melhor ainda que frequentar tal academia (pois no fundo acabo morrendo de preguiça mesmo), quero na verdade comprar tais benesses em frascos e ampolas, "bombas", anabolizantes de contato interpessoal para manter a sociedade funcionando sem uma guerra a cada dois minutos e meio.  _Por favor, me dá duas ampolas de pacacidade, mas eu não tenho receita. Já sei, os efeitos colaterais de apatia e inércia, meu primo tomou e teve isso, além de uma secura na boca terrível, mas comigo vai acontecer isso não. Daquela vez que tomei duas cartelas de pertinácia sofri só um caso de porfia, foi de madrugada mas passou rapidinho.
   Quer saber de uma coisa? Vou parar por aqui pois já perdi a paciência de digitar nesse teclado horrível!
FUI!

domingo, 25 de agosto de 2013

Caos - capítulo dez


   Baldes e tambores no chão, prateleiras de aço tombadas disputam lugar com velhos arquivos empenados e peças e ferramentas espalhadas sem nenhuma organização. As enegrecidas manchas de graxa e óleo só ajudam a criar a imagem de que a pessoa que ali trabalha é incapaz de encontrar até mesmo um gigantesco pneu de caminhão caso precise de algum, tal o nível da desordem reinante.
   Jacaré, do alto do mezanino da oficina, fachada para seu escritório de onde comanda seus negócios obscuros e de legalidade duvidosa, aprecia a arquitetura simples de seu plano. Até mesmo um olhar mais cuidadoso dificilmente conseguirá descobrir algo no meio daqueles objetos dispostos tão atrapalhadamente. Satisfeito com o resultado, sorri para si próprio.
   Mas há ordem no caos, e cada uma daquelas peças se encontra onde está por um motivo, um propósito que justifica um fim. Quem imaginaria encontrar ali no meio qualquer prova que ligue o esperto aproveitador 
ao seu comércio absolutamente informal?
   Pega uma pesada caixa de ferramentas escondida sob uma pilha de rolamentos velhos e vai correndo os dedos pelos livretos azuis e cédulas esverdeadas, documentos que apreendeu dos incautos imigrantes que chegam diariamente à metrópole agitada.
Dinheiro fácil de ganhar. Cerca os pobres viajantes assim que desembarcam dos ônibus clandestinos e oferece abrigo, comida e serviço, ofertas que naquele momento parecem que até mesmo acabaram de cair dos céus. Mas é claro que nada daquilo é gratuito. O preço pago é mais alto que qualquer um poderia imaginar. Enfia os recém chegados em um cortiço sem nenhuma condição de higiene, fornece magra refeição e já no outro dia, os leva para trabalhar na central de distribuição, serviço pesado e informal. Lá ele tem contato com o chefe dos chapas, que em troca da mão de obra e uma porcentagem no vencimento dos novos funcionários, dá a Jacaré o "direito" de fazer o pagamento da peãozada. O grande problema é que além de uma porcentagem que o atravessador morde a título de protetor, leva também boa parte dos ordenados cobrando valores absurdos relativos ao fornecimento de alimento e abrigo.
   Para garantir o funcionamento do esquema, ele guarda ali no seu covil os documentos de suas vítimas, as mantendo assim presas a ele. Além dos documentos, um pouco de medo somado a essa fórmula evita algum tipo de motim. Alguns nomes e retratos 3x4 que estão na caixa já não estão gerando receita faz tempo. Alguns fugiram de volta para sua terra sem nem mesmo levar nada além da roupa do corpo, outros morreram mesmo, sucumbiram ante o peso esmagador da selva de pedra. Mas isso não é problema, como  em todo ramo de negócio, tal perda já fora contabilizada. Afinal de contas, é impossível fazer uma omelete sem quebrar alguns ovos.
   A campainha estridente toca alto. Vamos lá, hora de fazer o pagamento.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Sobre flores - Capitulo nove


   Raimundo agora era só sorrisos. Graças a sua nova amizade, considera Baianinho seu baitininga,  conseguiu um trabalho bem melhor do que o primeiro. Aquilo de carregar caixa o dia inteiro até mesmo lá no norte era serviço pros diversos jumentos que todos os dias cortavam lentamente a caatinga, mesmo assim a pulso, de forma a levar os parcos mantimentos até a baixa da égua. sob o peso do acoite.
   Durante a pausa para o lanche da tarde, quando comia seu alfinin e o cabeludo, um luxo até então esquecido, observa o belo jardim, agora sua responsabilidade profissional.
   - No sertão não existia esse pantin de flor ornamental e cascata. O difícil vai ser só aprender a poda de cada uma, depois vai ser só manter tudo  feito a corralinda, deixa comigo!
   Neste momento, é rapidamente arrancado de seus pensamentos pelo som de uma melodiosa risada e ao olhar pela janela do escritório voltada para o canteiro de sempre-vivas, fica extasiado com a visão da moça que lhe contratara para o serviço.
   - Trabalhar no meio dessas flores e olhar pra apetrechada da Dona Gisele de vez em quando é quase tão bom quanto ganhar o salário mais benefício que ela prometeu., apois! Tanto tempo sem botar a Tonha pra andar e só de ver moça bonita fica com cara de beradeiro. Trabalhar é melhor, pois ela já deve de ter seu cambalafoice...
   Como já acabara a pausa para o café, calça as luvas e sai arrastando o bangue pela estradinha, afinal, ainda tinha grande parte do dia pela frente.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Passando batido

   Em um mundo de Facebook e Big Brother, poucas pessoas ainda mantem a paciência de parar e dedicar alguns momentos a leitura e eu vergonhosamente abracei a preguiça e deixei meu blog um pouco de lado, enfim, com a correria doida que está o dia a dia, a cabeça anda pesada e o corpo doído, não sobrando ânimo para colocar as escritas em dia.
   Infelizmente não é a primeira vez que isso acontece, mas vou fazer um esforço e evitarei de deixar este espaço passar batido.
   Afinal de contas, é a minha participação na luta para evitar que os nossos cérebros  derretam diante do lixo que é a programação da TV e das cada vez menos criativas e mais apelativas músicas em seus mais diversos gêneros.
   Vamos evitar de nos tornarmos cadáveres insepultos criados pela mídia alienadora de massas, obedientes ovelhas ruminando qualquer bobagem que jogam ao ar e dar uma chance para as artes e o conhecimento util e saudável.
   A cultura está pedindo socorro.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Noite Longa...

Noite longa e morna
Combinação ruim especialmente com a atual receita de fermentos e temperos que no momento povoam a mente.
Na certeza de que o incerto prevalecerá
O turbilhão que se forma é quase insustentável e de forma cruel, atinge e magoa a todos em volta.
Todos não. Somente os bons, os que querem e podem ajudar mas não conseguem se aproximar.
Tentam, procuram, mas a passagem está bloqueada por defesas que foram erguidas no intuito de barrar outras hordas.
Hienídeos? Hominídeos? Sejam lá o que forem, só sei que se riem enquanto alimentam da podridão sem nem saber a qual espécie eles mesmos pertencem.
Com um pouco de sorte se tornarão "autropófagos".

   Assim venho contrito pedir de uma forma geral  a absolvição de meus erros mundanos.
Peço primeiro ao Onipotente que a tudo viu e não ficou nem um pouco feliz com este filho assaz pródigo mas que acaba de dar com os costados em seus limites. As águas que doravante hei de singrar se mostram escuras e profundas, então aceito com humildade e bom grado seu Divino escaler.
Quero agora me escusar com todos familiares, amigos, colegas, conhecidos, desconhecidos, enfim, qualquer um a quem fiz triste, magoei, não pude estender a mão, dar um abraço, oferecer um bom dia ou iluminar um sorriso.
Quem me conhece sabe que não sou muito dado a tais palavras, não está sendo fácil transcrever  isso. Não sei o que deu em mim, nem tenho ainda a desculpa do Espírito Natalino, mas meu coração se faz pesado e preciso de um escape para tal pressão que me sufoca.
Não quero mudar o ano envolto nessa sombra fria. Acredito estar dando o primeiro passo para me livrar do peso que tem me acompanhado em 2012.
Que o Novo traga alegrias e energias necessárias a essa nova Gênese.
Que Deus me ajude, e vocês também.

Já se vão oito horas e meia observando monitores, vários na verdade, cada qual dividido em dezesseis pequenas telas nas quais se alternam as mais diversas imagens e situações. Corredores  sombrios e salas escuras, quadras silenciosas e escadarias vazias. Duas pessoas que conversam alguma banalidade ao se encontrarem em uma passagem qualquer e bem ali, no cantinho, na última quadrícula de um monitor eu me assisto.
Uma figura melancólica defronte um grande equipamento eletrônico, verdadeiro Big Brother, escrevendo bobagens em um feio pedaço de papel reciclado enquanto toma café frio e ouve as duas e quarenta da manhã, algo entre estática de um rádio VHF profissional e um chiado semi musical vindo de um surrado FM que utiliza um pedaço de fio a guisa de antena.
Minha vida já fez o contorno da Serra, mas meu final não será assistido em uma tela amarelecida por um anônimo operador de vídeo que se identifica como um número de ramal e conversa através de códigos compostos por três letras não. MAS NÃO MESMO!