domingo, 27 de setembro de 2009

Amor - Esse não é meu, é do Luiz Fernando Veríssimo, mas vai assim mesmo

Amor
A verdade é que devemos tudo aos amores infelizes, aos amores que não dão certo.
A poesia se faz antes ou depois do amor, ninguém jamais fez um bom poema durante um
amor feliz. Pois se o amor está tão bom, pra que interrompê-lo? O amor feliz não é assunto
de poesia, o amor feliz é em vez de poesia. Literatura é quando o amor ainda não veio ou
quando já acabou, literatura durante é mentira. Ou ela é empolgação ou é remorso, revolta,
saudade, tédio, divagação desesperada  enfim, tudo que dá bom texto.
Desconfie de quem explica um estado de exaltação criativa dizendo que está
amando. Algo deve estar errado.
 Você está amando, mas ela não está correspondendo, é isso?
 Não, não. Ela também me ama. É maravilhoso.
 É maravilhoso, mas você sabe que não pode durar, é isso? Seu poema é sobre a
transitoriedade de todas as coisas, sobre o efêmero, sobre o fim inevitável da felicidade num
mundo em que...
 Não! É sobre a felicidade sem fim!
 Não pode ser.
 Mas é. Acabei o poema e vou fazer uma canção. Depois, talvez, uma cantata. E
estou pensando num romance. Tudo inspirado no nosso amor. Não posso parar de criar.
Estou transbordando de amor e idéia. Crio dia e noite.
 E a mulher amada?
 Quem? Ah, ela. Bom, ela sabe que a atenção que não lhe dou, dou ao nosso amor
perfeito.
Está explicado. Ele não canta a amada ou seu amor. Está fascinado por ele mesmo,
amando. E o poema certamente é ruim.
Porque o amor, para ser de verdade, tem de emburrecer. Só devem lhe ocorrer
bobagens para dizer ou escrever durante um caso de amor. Ou é kitch, de mau gosto, piegas
ou copiado, ou não é amor. Qualquer sinal de originalidade pode até ser suspeito.
 Esses seus versos para mim... Estão ótimos.
 Obrigado.
 Essas juras de amor, essas rimas, essa métrica... De onde você tirou tudo isso?
 Eu mesmo inventei. Pensando em você.
 Seu falso!
 O quê?
 Só deixando de pensar em mim por algumas horas você faria uma coisa assim
pensando em mim. Só tomando distância, escrevendo e reescrevendo, raciocinando e
burilando, você faria isto. Um verso plagiado do Vinícius eu entenderia. Um verso original,
e bom desse jeito, é traição. Só não sendo sincero você seria tão inteligente!
 Mas...
 Não fale mais comigo.
Pronto. O amor acabou, agora você pode ser criativo sem remorso. Você está
infeliz, mas console-se. Pense em como isso melhorará o seu estilo.

P.S. Outro dia postei que não tinha ninguém acompanhando o Blog, mas fiquei tremendamente surpreso e grato ao receber seu email, Fabiana, muito obrigado mesmo, sua opinião e de extrema importância para mim! Uma observação: não é karma, é bom gosto mesmo, hahaha... tá bom, admito, a piada foi de mau gosto :-(

Nenhum comentário: