quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Trem Bão é Coisa Boa Parte Treze


Parte TREZE

Um novo dia nasce na roça e todos se levantam com as galinhas. Estão esperando o caminhão de leite que hoje está trazendo sacos de farelo e medicamentos para o gado.

Durante a manhã fria conversam em volta do fogão aceso tomando café e comendo o queijo Minas acabado de sair da forma. Em breve, Chicão chegará do curral com o latão de leite que dessa vez não se tornaria queijo e sim, o cremoso e famoso doce que o casal levaria para casa, junto com algumas dúzias de ovos, café moído, mel de jataí que a própria moça colhera na cabaça e é claro, alguma quitanda.

O tacho já estava pronto e o fogo aceso lá fora no fogareiro de chão ao lado do forno de biscoitos.

Enquanto o trabalho demorado de virar o doce de leite era executado, o rapaz foi apanhar as doces laranjas campistas e as azedas laranjas capeta, algumas pimentas e uma lembrança da infância: castanhas de buriti.

Hoje ele faria o almoço e se atirou à cozinha. Encontrou alguns enlatados no grande armário de madeira e caprichou no arroz de forno, e aproveitou a lingüiça que defumava no jirau para dar um sabor todo especial ao feijão tropeiro. Não podia faltar, é claro, uma tradicional sobremesa mineira a base de queijo e goiabada, famosa Romeu e Julieta, a qual dera um toque especial acrescentando a mistura um pouco de requeijão cremoso.

A euforia dos dias anteriores aos poucos ia sendo substituída por um sentimento de saudade de algo que ainda não tinham perdido, sentimento confuso e de difícil explicação mas que doía uma pontadinha aguda, lá no fundo do estômago.

As malas já estavam prontas e o que não era essencial já estava até mesmo no porta-malas do carro. Amanhã era a partida e este era um assunto que estava sendo evitado.

Enquanto o doce esfria o trabalho continua. Aproveitando a lenha que o rapaz havia juntado para o preparo do doce e que sobrara, anfitriã e visitante resolvem preparar uma fornada de pães de queijo e vão sovar o polvilho.

Nesse tempo ele vai deixando o veículo pronto para a partida, verificando óleo e água e carregando o GPS com os dados da viagem.

A moça vai ao delírio ao experimentar o pãozinho ainda quente com uma fatia de queijo fresco em seu interior, que derrete imediatamente e só quem já experimentou conhece tal iguaria.

Tudo pronto para a partida na manhã seguinte, eles passam o resto do dia e uma boa parte da noite fazendo planos para um retorno e até mesmo quem sabe, uma viagem da avó até São Paulo?

O último dia amanhece e começam as despedidas. Com lágrimas nos olhos a garota abraça a senhora e pergunta se pode chamá-la de vó. Esta, muito emocionada sorri e lhe pede que traga rapidamente alguns bisnetos para trazer de volta a alegria até a antiga casa de fazenda.

Com um rápido toque na buzina o rapaz põe termo na despedida e acena à avó, que assiste com um nó na garganta o carro desaparecendo na curva à esquerda.

-É Barranco, agora somos só nós dois de novo. Vem cá nego, esquentar sol com essa velha, vem!

Fim da Parte TREZE

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