terça-feira, 26 de julho de 2011

Trem Bão é Coisa Boa Parte OITO


Parte OITO

Tudo é novidade para a garota urbana. O ar puro, os cheiros da natureza e de fazenda, animais soltos, que a dona nomeava genericamente de criação. Estranhou a antiga casa com o piso ora de cinzento cimento, ora de grossas tábuas imperfeitamente assentadas e sem verniz, que rangiam sob seus passos. Andava temerosa de que o salto enfiasse em uma daquelas frestas e se quebrasse, o que seria praticamente uma tragédia. Nesse momento ficou realmente arrependida de não ter dado ouvidos aos conselhos de quem conhece bem o lugar e não ter vindo mais bem preparada, no mínimo calçada com uma rasteirinha.

Naquele instante passou a considerar exagerada a reação que teve enquanto era planejada a viagem. O lugar era pitoresco, um tanto rústico, mas realmente agradável, no mínimo essa seria uma experiência diferente. Nunca estivera no campo, no máximo visitou um pesque pague, mas como diria o namorado, aquilo não passava de roça enlatada, leite de saquinho, ovo de granja.

Só não gostou mesmo do banheiro, muito simples e sem qualquer acabamento, todo de cimento grosso, as louças quase que uma sobre a outra e encimadas por um grande chuveiro de aço inox que devia gastar energia suficiente para tocar uma siderúrgica e era o convite para um choque elétrico quase certo.

O quarto que ocupariam também era bem espartano, uma cama de casal fabricada provavelmente nos anos 60, um guarda roupas nem tão novo assim também de duas portas separadas por quatro gavetas e um espelho oval bisotado, um beliche com colchões de palha duríssimos e uma prateleira cheia de pequenas imagens de santos e marcas de velas que por décadas choraram suas ceras em honra da fé de alguém que ali se ajoelhou e se entregou a demoradas noites de orações.

Finalmente em volta da grossa janela de madeira sem qualquer acabamento além de uma mal passada tinta, estava dependurado um gigantesco rosário formado por contas de madeira maiores do que azeitonas, e muito provavelmente confeccionado com o único propósito de se tornar objeto de decoração.

_Bom, não é tão ruim quanto eu pensei que seria. Se eu não tivesse agido com tamanho preconceito poderia ter evitado muita briga na semana passada. – ela fala ao ouvido do rapaz ao tomar o seu lugar à mesa. Elevando a voz emenda:

_Então vamos conhecer essa tal comida mineira!

Fim da Parte OITO

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