sábado, 30 de julho de 2011

Trem Bão é Coisa Boa Parte Dez


A tarde desenrolou sem surpresas, papo jogado fora, conversa colocada em dia.

O rapaz contava para a avó o sucesso do trabalho, a escada galgada para chegar até ali e os planos para o futuro.

A velhinha o punha a par das mudanças ocorridas ali, as coisas que eram produzidas, quantas vacas, porcos e galinhas compunham seu plantel.

A moça assistia a tudo de longe tentando entender o gosto daqueles dois por aquele pedaço de chão longe da civilização, cercado de mata por todos os lados e praticamente sem comunicação com o resto do mundo. A primeira coisa que fez quando chegara ali fora tirar o celular da bolsa para anunciar as amigas sobre o termo da viagem e lhes contar as primeiras impressões sobre o local. E a primeira impressão para ela não foi nada agradável.

Em qualquer lugar que fosse não conseguia sinal nenhum e isso lhe causava uma certa ansiedade. Melhor mesmo foi se deitar um pouco, descansar das horas de asfalto e cascalho para dar uma melhorada no humor que aos poucos teimava em se degradar. Com a cabeça um pouco mais fresca sentou-se no antigo banco de madeira junto à cerca e se pôs a ler um grosso livro que levou já com a intenção de se distrair nos tediosos dias que teria que passar na presença da família do companheiro.

- Pelo menos com isso em mãos não preciso dar muito assunto a ninguém, fico na minha e ainda passo o tempo sem nem perceber os mosquitos e baratas que devem existir aos montes por aqui, credo!

A janta simples foi servida as cinco da tarde e a dona da casa começou a se recolher logo após a Hora do Ângelus, momento para ela e também para a grande maioria dos moradores daquelas bandas, era o mais solene do dia. O sol se põe cedo na roça e assistir a este espetáculo da natureza ouvindo a Ave Maria de Gounod chega mesmo a ser emocionante.

-Deus os abençoe meus netos, essa velha já vai é pra cama, afinal a lida começa cedinho. Boa noite e durmam bem porque amanha o dia vai ser muito assoberbado.

Dizendo isso passou as tramelas nas portas e os trincos nas janelas, pegou o terço gasto entre os dedos e foi para o quarto.

O jovem casal segue seu exemplo e se fecha no aposento onde ao se apagar as luzes, não conseguem ver absolutamente nada além do mais profundo negrume.

Fim da Parte DEZ

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